O Mundo é uma Bola (ou um Puck!)
"O jogo é uma atividade voluntária, exercida dentro de certos limites de tempo e de espaço. É realizado segundo regras consentidas mas obrigatórias, e dotado de um fim em si mesmo. A atividade lúdica é acompanhada de um sentimento de tensão e de alegria, e da consciência de que não se está diante de uma situação da chamada vida cotidiana.”
Johan Huizinga discute o conceito de jogo em seu livro de 1931, Homo Ludens. É desse livro que trago a citação para começar o debate sobre quão interessante pode ser a influência do jogo sobre o nosso dia a dia. Huizinga sustenta que, em primeiro lugar, o jogo é nato do ser humano. A própria vida é vivida com regras, ou seja, também ela é um jogo.
No Brasil, o hábito do jogo tem suas particularidades: como somos um país tropical, nossas atividades lúdicas estão na maioria das vezes situadas no ambiente aberto. Tendemos a ficar menos tempo em casa e aproveitamos mais a vida com afazeres na rua, ao contrário de muitos paises europeus, principalmente da região escandinava e da Europa Central e Oriental. O clima mais frio e a história daquele continente contribuíram para o desenvolvimento de uma cultura mais voltada para jogos de passatempo mentais como, por exemplo, o xadrez. No Brasil, quando faz calor, o bom é ir brincar carnaval.
Há diversos fatores culturais que influenciam a maneira como as sociedades enxergam seus jogadores. Sem querer entrar em discussões sobre os jogos de azar e as apostas, no Brasil muitas vezes somos taxados e recriminados por familiares e amigos por sermos game-maníacos. Na verdade, o prazer do jogo está muito mais associado a um treinamento, físico ou mental, a uma obstinação pelo aperfeiçoamento, que a um vício. O jogo, é, portanto, um subordinado que nos serve de prazer, alegria, e extravazamento. Que o digam os torcedores dos estádios. Que o digamos nós, quando nosso atacante fica parado como um cone na hora de empurrar a bola pra dentro da rede adversária.
Voltando ao comparativo entre os países, trago abaixo dados de algumas das nações do PPM e o número de times ativos no futebol e no hóquei.
País
|
População (milhões)
|
PIB US$ (bilhões)
|
IDH
|
Times Hóquei Ativos
|
Times Futebol Ativos
|
Usuários por milhão (Hóquei)
|
Usuários por milhão (Futebol)
|
Argentina
|
40,4
|
458
|
0,80
|
212
|
1131
|
5,2
|
27,9
|
Brasil
|
190,0
|
2100
|
0,72
|
286
|
903
|
1,5
|
4,8
|
Polônia
|
38,6
|
468
|
0,81
|
1838
|
3686
|
47,6
|
95,4
|
Rússia
|
142,5
|
1480
|
0,76
|
1033
|
962
|
7,2
|
6,7
|
Suécia
|
9,2
|
368
|
0,90
|
958
|
763
|
104,1
|
82,9
|
No quadro acima podemos notar que o jogo no Brasil tem uma popularidade bem menor que a alcançada pelo hóquei na Suécia e o futebol na Polônia. Claro que temos as diferenças econômicas, de acessibilidade à internet e outro aspecto importantíssimo, que é o fato do PPM ter surgido na Europa Central, logo, o marketing e a disseminação por lá são bem mais naturais. Ainda assim, olhando para a Argentina, vale a pena investigar o que faz com que o sucesso do game no Brasil ainda esteja patinando. Complexidade das regras, outras atividades, falta de cultura para jogos cerebrais? Eu não apostaria nisso. Acho que grande parte do problema estava em que tinha pouca graça estar aqui.
Com a mudança de mentalidade da nossa equipe de assistentes estamos começando a ver isso mudar. Para acelerar o processo devemos seguir nossos instintos e pensar que não estamos aqui para ganhar, ganhar, ganhar, em competições em que necessariamente temos 1 vencedor e outros 21 perdedores. Ao contrário. A graça do jogo está no jogar, nas histórias, e nas amizades que fazemos. Fico satisfeito ao ver que estamos aos poucos recuperando isso no PPM Brasil.
"A existência do jogo é inegável. É possível negar-se quase todas as abstrações: a justiça, a beleza, o bom, Deus. É possível negar-se a seriedade, mas não o jogo."
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