Teoria dos limites de utilidade
:.: Descrição :.:
Ao reler o guia deparei-me mais uma vez com a seguinte afirmação:
:. "Jogadores com atributos 180-25-25 ou 70-90-90 /onde o primeiro é o atributo primário e os outros dois são secundários/ não é tão bom para sua posição quanto um jogador com atributos 120-30-50. Igualmente, um jogador com 130-80-30 ou 80-80-80 não é tão com para sua posição quanto um jogador com atributos 100-80-50."
Já não é a primeira vez que penso no assunto, e de cada vez que o fiz nunca consegui ver a lógica por trás da afirmação, no entanto creio que se não fosse verdade não o teriam escrito. Decidi mais uma vez analisar o assunto. Para tal juntei os factos que conheço a alguns pressupostos lógicos, na minha opinião, com o intuito de determinar qual a forma ótima de treinar os jogadores.
:. Facto: Existe uma relação ótima entre os atributos primários (AP) e secundários (AS) que faz com que o jogador aproveite os seus atributos ao máximo. Essa relação tem um valor a que vou chamar RC.
Analisando a afirmação do guia, sou levado a concluir que não adianta treinar apenas o AP, porque chega a um ponto em que esse aumento, se não acompanhado pelo aumento dos AS, deixa de trazer beneficio para o jogador. De igual forma treinado apenas os AS também chegamos a um ponto em que deixa de haver beneficios a não ser que o AP aumente.
:. Pressuposto: Com base no anterior, assumi que o valor do AP determina o limite de utilidade, inferior e superior, dos AS, e da mesma forma o valor dos AS determinam o limite de utilidade, mais uma vez inferior e superior, do AP.
Quer isto dizer que, para um jogador utilizar o seu AP a 100% deverá ter os AS dentro de um certo intervalo, não podendo ser demasiado elevados nem demasiado baixos (a lógica sendo que não adianta ter passe e técnica elevados se for um guarda redes mediocre, tal como mesmo sendo um guarda redes extraordinário, a qualidade irá ser afectada se o passe e técnica forem demasiado baixos). E o mesmo se aplica ao aproveitamento a 100% dos AS.
:. Pressuposto: Com base na qualificação feita no guia, ao definir um atributo como principal, e dois como secundários, ao invés de um secundário e outro terciário, assumi que a relação entre o valor do AP e cada um dos AS deverá ser igual. Da mesma forma o AP deverá ser superior aos AS.
Acredito que este pressuposto poderá não gerar consenso, no entanto a mim parece-me lógico que assim seja, tendo em conta que se trata de um programa de simulação e não da vida real. De qualquer forma, a quem não concordar peço que me conceda alguma margem, até que tenha oportunidade de terminar o meu raciocinio.
Com base nos factos e pressupostos apresentados anteriormente temos que, o valor máximo útil do AP é limitado pelo menor dos AS na base da sua relação, da mesma forma que o valor máximo útil dos AS é limitado pelo valor do AP. Assim temos o seguinte:
- o limite de utilidade do AP é igual ao mínimo valor entre AP, RC*AS1 e RC*AS2
- o limite de utilidade do AS1 é igual ao mínimo valor entre AS1 e AP/RC
- o limite de utilidade do AS2 é igual ao mínimo valor entre AS2 e AP/RC
Tomemos como exemplo um jogador A com atributos 180-20-70 (AP-AS1-AS2). Se colocar-mos a hipótese de RC ser dois teremos que o AP máximo será o menor dos valores entre 180 (AP), 40 (AS1*2) e 140 (AS2*2); o AS1 máximo seria o menor dos valores entre 20 e 90 (AP/2) e o AS2 máximo seria o menor dos valores entre 70 e 90 (AP/2). Apresento de seguida um quadro com os valores corrigidos para vários valores de RC.
- se RC = 2, os valores máximos uteis do jogador A seriam 40-20-70 (AP-AS1-AS2)
- se RC = 3, os valores máximos uteis do jogador A seriam 60-20-60 (AP-AS1-AS2)
- se RC = 4, os valores máximos uteis do jogador A seriam 80-20-45 (AP-AS1-AS2)
Quer isto dizer que se o valor RC for dois, o jogador A apenas aproveitaria 22% do AP devido ao limite imposto pelo baixo AS1, mas aproveitaria a totalidade dos seus AS. No caso do valor de RC ser quatro, este jogador já aproveitaria 44% do seu AP, no entanto o aproveitamento do AS2 desceria para 64%.
Para fazer um paralelo às tipologias de treino existentes, de forma a simplificar um pouco o meu raciocinio, os treinadores que utilizam o método de treino 100-50-50 (ou 2-1-1) acreditam que o valor de RC é igual a 2, e por essa razão certificam-se que o valor do AP nunca é superior ao dobro dos AS, nem os AS inferiores a metade do AP.
:.: Determinação do RC Ótimo :.:
Explicada a minha teoria, resta agora falar de qual será a sua utilidade. Eu estou convencido que configurando o treino dos jogadores por forma a que os seus atributos andem sempre dentro dos seus limites de utilidade se conseguirá tirar o máximo proveito da sua qualidade ao longo das épocas bem como treinar o jogador até ao seu potencial máximo. Posto isto voltemos à afirmação que deu origem a este meu exercicio intelectual.
:. Facto: O jogador A1(120-30-50) é melhor do que os jogadores A2(180-25-25) e A3(70-90-90). O jogador B1(100-80-50) é melhor do que os jogadores B2(130-80-30) e B3(80-80-80).
De acordo com o anterior, sou obrigado a concluir que o valor de RC óptimo será tal que respeitará todas as comparações expressas neste facto. Uma vez que a maioria dos teinadores acredita no treino 100-50-50 vou começar por testar a minha teoria para um RC=2. Assim sendo os valores uteis dos jogadores serão:
A1(60-30-50)
A2(50-25-25)
A3(70-35-35)
B1(100-50-50)
B2(60-65-30)
B3(80-40-40)
Para efeitos de comparação entre eles terei que calcular o valor da qualidade de cada jogador, e para fazer isso tenho que relacionar os atributos de cada um numa fórmula. Vou usar para já a forma mais simples e assumir que a sua qualidade QJ será a soma dos seus atributos AP+AS1+AS2.
QJ A1 = 140
QJ A2 = 100
QJ A3 = 140
QJ B1 = 200
QJ B2 = 155
QJ B3 = 160
Verifica-se que A1 não é melhor do que A3, pelo que tenho que concluir que o valor de RC e/ou a formula de comparação não são correctos. Vamos para já alterar o valor de RC e manter a formula de comparação, e posteriormente questionamos a validade da formula de comparação. Assumindo RC=3 temos:
A1(90-30-40), QJ = 160
A2(70-25-25), QJ = 120
A3(70-23-23), QJ = 116
B1(100-33-33), QJ = 166
B2(90-43-30), QJ = 163
B3(80-27-27), QJ = 134
Desta vez todas as comparações são verdadeiras, A1 é melhor do que A2 e A3, e B1 é melhor do que B2 e B3. Vamos então alterar a fórmula de comparação. Se uns atributos são chamados de AP e outros são AS, o lógico seria uns terem maior peso do que outros, pelo que vou agora testar a fórmula de comparação AP*2+AS1+AS2 (isto não é mais do que considerar que o AP contribui com 50% para a qualidade do jogador e os AS com 25% cada um)
A1(90-30-40), QJ = 250
A2(70-25-25), QJ = 190
A3(70-23-23), QJ = 186
B1(100-33-33), QJ = 266
B2(90-43-30), QJ = 253
B3(80-27-27), QJ = 214
Mais uma vez todas as comparações são verdadeiras, pelo que tentei outra formula de comparação na tentativa de eliminar o valor de RC=3. Usei a fórmula AP*3+AS1*2+AS2*2 (ou seja o AP contribui com 44% para a qualidade do jogador e os AS contribuem com 28% cada um)
A1(90-30-40), QJ = 410
A2(70-25-25), QJ = 310
A3(70-23-23), QJ = 302
B1(100-33-33), QJ = 432
B2(90-43-30), QJ = 416
B3(80-27-27), QJ = 348
Consegui com isto provar que três é um valor possivel para o RC, considerando estas 3 fórmulas de comparação.
Motivado pelo meu sucesso, resolvi automatizar o processo de forma a poder verificar a veracidade da minha teoria quando aplicado a outros valores das minhas duas variáveis, o valor de RC e a fórmula de comparação dos jogadores.
Organizei a minha folha de cáculo em função da fórmula de comparação e obtive o seguinte:
- a fórmula AP+AS1+AS2 é válida para RC entre os valores 2.001 e 3.088
- a fórmula 2*AP+AS1+AS2 é válida para RC entre os valores 2.108 e 3.198
- a fórmula 3*AP+AS1+AS2 é válida para RC entre os valores 2.164 e 3.240
- a fórmula 4*AP+AS1+AS2 é válida para RC entre os valores 2.198 e 3.262
- a fórmula 3*AP+2*AS1+2*AS2 é válida para RC entre os valores 2.064 e 3.159
- a fórmula 4*AP+3*AS1+3*AS2 é válida para RC entre os valores 2.045 e 3.140
- a fórmula 5*AP+3*AS1+3*AS2 é válida para RC entre os valores 2.080 e 3.174
:. Facto: Um jogador é melhor do que outro, independentemente da forma de comparação, quanto maior for a diferença entre a qualidade dos mesmos.
Com base nisto conclui que o valor ótimo do RC seria aquele que, não só tornaria as quatro comparações verdadeiras (A1 > A2, A1 > A3 e B1 > B2, B1 > B3) como também aquele que conseguisse dar a maior vantagem aos jogadores A1 e B1 em relação aos seus inferiores.
:. Pressuposto: Somando o menor valor entre (QJ A1 - QJ A2) e (QJ A1 - QJ A3) com o menor valor entre (QJ B1 - QJ B2) e (QJ B1 - QJ B3) obtenho a qualidade global (QG) mínima da comparação, pelo que o valor de RC que consiga obter o máximo valor de QG será o valor ótimo de RC.
Aplicando este pressuposto aos meus cálculos verifiquei algo que me deixou surpreso.
Sendo qualquer fórmula de comparação composta por factores e atributos (no caso da fórmula mais simples temos todos os factores iguais a 1, 1*AP+1*AS1+1*AS2) verifiquei que em todas as fórmulas onde se considera que o AP contribui com 50% ou menos para a qualidade de um jogador, ou dizendo de outra forma, em todas as fórmulas em que a soma dos factores aplicados aos AS são superiores ou iguais ao factor aplicado ao AP o valor ótimo de RC é 2.4 (testado até à 7 casa decimal).
(...)
- 1*AP+6*AS1+6*AS2, RC ótimo = 2.4
- 1*AP+5*AS1+5*AS2, RC ótimo = 2.4
- 1*AP+4*AS1+4*AS2, RC ótimo = 2.4
- 1*AP+3*AS1+3*AS2, RC ótimo = 2.4
- 1*AP+2*AS1+2*AS2, RC ótimo = 2.4
- 1*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.4
- 2*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.4
- 3*AP+2*AS1+2*AS2, RC ótimo = 2.4
- 4*AP+3*AS1+3*AS2, RC ótimo = 2.4
- 5*AP+3*AS1+3*AS2, RC ótimo = 2.4
- 5*AP+4*AS1+4*AS2, RC ótimo = 2.4
- 6*AP+4*AS1+4*AS2, RC ótimo = 2.4
- 6*AP+5*AS1+5*AS2, RC ótimo = 2.4
(...)
Para todas as fórmulas em que a soma dos factores aplicados aos AS são inferiores ao factor aplicado ao AP, ou seja quando se considera que o AP contribue com mais de 50% para a qualidade do jogador, o valor ótimo de RC tende para 2.7:
(...)
5*AP+2*AS1+2*AS2, RC ótimo = 2.44
6*AP+2*AS1+2*AS2, RC ótimo = 2.47
3*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.47
4*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.52
5*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.55
6*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.57
9*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.60
20*AP+1*AS1+1*AS2, RC ótimo = 2.64
(...)
:.: Conclusão :.:
- Qualquer que seja a fórmula de comparação, o RC ótimo situa-se entre 2.4 e 2.7, sendo sempre igual a 2.4 nas fórmulas que consideram que a influência do AP na qualidade do jogador não excede os 50%.
- No limite dos 2.7 o treino ótimo seria com um rácio de 27-10-10, enquanto que no limite dos 2.4 seria 24-10-10
- A maioria dos treinadores acredita no treino com um rácio de 100-50-50 (ou 24-12-12)
:.: Notas Finais :.:
O que eu pretendi aqui determinar foi apenas qual o rácio ótimo para treinar jogadores, por forma a atingirem o seu potencial de qualidade máximo. O máximo que consegui foi uma aproximação partindo de factos expostos no guia e pressupostos que me parecem lógicos, no entanto cada um fará o seu próprio juizo.
Acredito que ao seguir esta metodologia conseguirei desenvolver jogadores que serão igualmente bons seja qual for a tática utilizada, apesar de nunca se tornarem especialistas numa determinada àrea.
Cada um tirará as suas conclusões.
--
Robert Filipe
Nota 1: Como já certamente já entenderam, apesar de eu estar a publicar este artigo, quem teve todo o trabalho foi o xxflip. Portanto os créditos por este fantástico artigo deverão ser dados a ele. Eu apenas agradeço o facto de ele partilhar com a comunidade e principalmente ter escolhido a Magazine como meio de partilha!
Nota 2: Quem quiser partilhar a sua experiência sobre determinado tema que diga respeito ao PPM (treino, instalações, táticas, etc), esteja á vontade. Artigos mais vocacionados para a cultura também são bem-vindos! Basta fazer como fez o xxflip e entrar em contacto comigo. A Magazine é e sempre será de todos!
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